Memórias Paroquiais de 1758: S. Cristóvão de Selho



Na nossa peregrinação pelas freguesias de Guimarães no ano de 1758, chegámos agora à quinquagésima paragem e ainda falta percorrer muito território. Em S. Cristóvão de Selho passa o rio Selho, que divide esta freguesia da de S. Jorge de Selho. Diz o pároco que respondeu ao inquérito das memórias paroquiais de S. Cristóvão que
Alguns anos seca, como foi nos anos da seca. Corre de Nascente a Poente, alguma coisa ligeiro. Nele se criam alguns peixes, como são barbos, escalos, bogas e panchorcas e enguias e se caçam com chumbeiras, mingachos, alvitanas, nassas e à cana, na maior parte do ano. Tem este rio duas partes, em que chamam os Sumes, por passar por debaixo do chão sem se ver, que uns terão de comprido quarenta varas e, noutra parte, cento e cinquenta varas.
Há uma história curiosa com um sino (aliás, dois sinos) para a igreja de S. Cristóvão. Em meados de Novembro de 1838, foi concedido à junta paroquial de S. Cristóvão de Selho o sino maior do convento de Santo António dos Capuchos de Guimarães. A junta da paróquia onde o convento está erigido, Azurém, reclamou desta decisão, reclamando a sua revogação, o que aconteceu em meados de Março do ano seguinte. A igreja de S. Cristóvão já não recebeu o maior sino dos Capuchos. Mas não ficou sem sino, tendo recebido um dos sinos mais pequenos do Mosteiro da Costa.

S. Cristóvão de Selho
S. Cristóvão de Cima de Selho
O nome desta freguesia e orago dela é São Cristóvão de Cima de Selho, termo da vila de Guimarães e Arcebispado de Braga, e comarca da mesma vila, e fica distante da cidade de Braga três léguas, e da cidade de Lisboa, sessenta.
Tem esta freguesia trinta e dois vizinhos que são: Assento, Leirinha, Lameiro, Adro, Casa Nova, Penegacho. Senra, Parrameiro, Novegilde, Moinhos de Novegilde, Pisões, Moinhos do Poço e Senra, Vargeacova, Muda, Moinhos de Portela, Outeiro Levado, Pontido, Cardido, Lavandeira, Remazal, Outeiro, Monte, Bacelo, Souto, Formigosa, Lamasrande, Pena, Quinchoso, Campo, Ribeiro de Baixo, Ribeiro de Cima, Portelinha, Campinho. Tem esta freguesia duzentas e treze pessoas .
E tem a igreja três altares. No altar-mor está São Cristóvão e, nos dois do corpo da igreja, no da parte do Evangelho, está colocada a imagem de Nossa Senhora do Rosário, que tem irmandade da mesma Senhora já há anos, e, no da parte da Epístola, está São Sebastião e São Gonçalo. E tem a imagem de Nossa Senhora do Rosário alguma cera, de milagres que faz a mesma Senhora.
Está situada entre um monte e, para o Poente, descobre as freguesias vizinhas de São Jorge de Cima de Selho e São João de Gondar.
É esta freguesia apresentação do excelentíssimo Bispo de Constantina e vigairaria ad nutum. Renderá, para o vigário, sessenta mil réis e, para o padroeiro, duzentos, pouco mais ou menos.
Tem duas capelas, uma de Santo António, situada no lugar de Cardido, e outra de São Domingos, no Ribeiro de Baixo, e pertencem ser fabricados, a de Santo António, pelo Doutor António de Sousa Silveira, juiz dos crimes da cidade do Porto, e a de São Domingos, por Domingos António Pereira de Carvalho, do Ribeiro de Cima.
E tem fogos, nos vizinhos que digo, setenta.
Colhe-se nesta freguesia milhão, milho alvo, centeio e painço e vinho verde e algum azeite, landres, castanhas e algumas frutas de outras qualidades.
Serve-se esta freguesia do correio de Guimarães, que fica distante três quartos de légua.
Tem alguns privilégios de Nossa Senhora da Oliveira, da Colegiada da vila de Guimarães.
Tem, pegado à freguesia, o monte de Nossa Senhora, chamada do Monte, pertencente à freguesia de Santa Cristina de Serzedelo. Terá, de comprimento, um quarto de légua e, de largura, outro tanto. E nela se criam algumas perdizes, lebres e coelhos, de tudo pouco. Principia na freguesia de Santa Cristina de Serzedelo e finda na de São Martinho de Candoso, e não dá senão matos para cultivar os campos. O temperamento desta terra é alguma coisa frio.
O rio que tem a freguesia.
Chama-se o rio de Selho, que principia na freguesia de Gonça e na de São Torcato e se vai recolher no rio Ave. Terá, de comprido, duas léguas. Divide esta freguesia com a de São Jorge de Cima de Selho. Alguns anos seca, como foi nos anos da seca. Corre de Nascente a Poente, alguma coisa ligeiro. Nele se criam alguns peixes, como são barbos, escalos, bogas e panchorcas e enguias e se caçam com chumbeiras, mingachos, alvitanas, nassas e à cana, na maior parte do ano. Tem este rio duas partes, em que chamam os Sumes, por passar por debaixo do chão sem se ver, que uns terão de comprido quarenta varas e, noutra parte, cento e cinquenta varas. Chama-se o sítio onde entra no rio Ave a Várzea. Tem duas pontes, uma de pedra chamada, a ponte da Mansa, e outra de pau, no sítio dos Pisões, nome antigo, por os então haver. Tem bastantes moinhos, que por todos são treze, que alguns deles, havendo águas moem de Verão.
O vigário da freguesia de São Cristóvão de Cima de Selho, Bento Fernandes.
Vai esta conta assinada pelos párocos, o da freguesia de São Martinho de Candoso e o de São Jorge de Cima de Selho, vizinhos desta, que comigo assinaram. Hoje, vinte de Maio de mil e setecentos e cinquenta e oito anos.
O vigário de São Martinho de Candoso, António da Costa Rodrigues.
O vigário de São Jorge de Cima de Selho, João da Cunha e Freitas.
Selho, S. Cristóvão”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 11, n.º 327, p. 2239 a 2240.
[A seguir: Serzedelo]

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