Memórias Paroquiais de 1758: Paraíso



Já se chamou S. Miguel de Negrelos e S. Miguel do... Inferno. Foi o arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires que lhe tirou o Inferno do nome, rebaptizando-a como S. Miguel do Paraíso. Foi anexada a a S. Jorge de Selho. É uma das paróquias de Guimarães cuja memória de 1758 anda extraviada. Dela nos fala Martins Sarmento que, nos seus apontamentos, descreveu as suas andanças por lá:

Paraíso. Segui por Silvares; tornei pelos outeiros ao norte da Portela; depois desci para as margens do Ave atrás da igreja do Paraíso, que entendi dever ficar na baixa. Uma velha e um homem, com que me encontrei, deram-me indicações que me obrigaram a tornar depois para a meia encosta. Melhores que as indicações do caminho são as que me deram acerco do “Monte da Senhora”, sobre o qual os interroguei. As pegadas do penedo não são as da Senhora, mas as da jumenta, quando a Senhora fugia para o Egipto. Não sabia se a Senhora tinha tido capela no monte, mas sabia que o sino da igreja do Paraíso era dela. Segundo a notícia de um outro homem com quem falei depois, a Senhora viera primeiro para a igreja do Paraíso; mas “fugia” de noite para a de S. Jorge, e isto sucedeu mais que uma vez. O primeiro homem não era tão positivo sobre este ponto e sabia só com certeza que a Senhora estava em S. Jorge, o sino no Paraíso. É bom notar que o Monte da Senhora fica, pouco mais ou menos, a igual distância das duas igrejas. Quanto a S. Jorge, o homem lembrava-se de ter visto o Santo fora da igreja respectiva com a bicha debaixo dele (provavelmente em nicho, na frontaria), e recordou-se depois que também havia a bicha dentro. A bicha não era a das sete cabeças - acrescentava ele; era outra, que andou por aqui.
Perguntando-lhe se andaria pelo Monte da Senhora, nada disse de positivo, mas inclinou-se a que... “Pois se S. Jorge a matou por aqui!” - dizia ele.
Passando a outras coisas, a velha afirmava ter encontrado alguns objectos de metal que, esfregados, pareciam de ouro e prometeu trazer-mos a casa, quando os encontrasse de novo.
Subi depois à igreja, que é uma pequena capela e a rebentar por todos os lados. O segundo homem, a que já me referi, sabia que a freguesia se chamara primeiro Inferno. É muito pequena e não tem pároco. A igreja não dista muito do Monte da Senhora, e, na subida, aqui e ali apareciam alguns fragmentos de telha. Urge visitar mais devagar as vertentes do monte e as suas faldas para o Ave.

Paraíso
Paraíso é aldeia e paróquia do termo da vila de Guimarães, na comarca do mesmo nome. O seu povo consta de 32 fogos, 162 almas de sacramento, na matriz dedicada a S. Miguel Arcanjo.
O Pároco é cura apresentado pelo Cabido da Real Colegiada de Guimarães e tem de côngrua 40$000 réis.
Paraíso”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, vol. 42, nº 290, p. 13.
[A seguir: Ronfe]

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