A nêspera (1)

Isto é um magnório (imitando Magritte).

Tem pele amarela e caroços castanhos e brilhantes. Chamam-lhe nêspera, mas ‘a’ nêspera é um fruto bem diferente.
A nêspera tem uma longa história na Europa. Precisa de Verões quentes e de Invernos frios. É colhida no final do Outono e tem a pele castanha, com aspecto terroso, e cinco caroços irregulares. Antes de amadurecer, é rija, de polpa esbranquiçada e adstringente. Absolutamente intragável. Não amadurece na árvore. Tradicionalmente, é colhida antes de atingir a fase de maturação, sendo deixada em repouso sobre palha, durante algumas semanas. Durante esse tempo, fica a sorvar, passando por um processo de amolecimento e ligeira fermentação, em que a sua polpa fica castanha e cremosa, adquirindo a textura e o sabor que lhe são característicos. Há quem diga que sabe a manteiga de maçã (compota de maçã com especiarias), que tem um toque avinhado, reminiscências de sidra ou uma suavidade picante difícil de descrever. Não sei como descrever aquilo a que sabe, mas sei que é uma fruta única, que se adora ou se detesta, mas também de que se aprende a gostar. Gregos e romanos tinham-na em boa conta e foi muito popular na Idade Média europeia. Com ela fazem-se geleias e compotas, que os ingleses servem com caça ou carne assada. Há quem diga que é o melhor fruto para acompanhar vinho e que vai muito bem com o do Porto.  Tempos houve em que era considerada, por excelência, uma sobremesa de Natal. Mal amada em tempos recentes, tem vindo a ser redescoberta pelos apreciadores de frutas raras e por cozinheiros inovadores.
A nêspera é um fruto muito antigo, com muita história e, pela sua carnalidade lasciva, com muita literatura, como logo veremos.
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Nos próximos dias, falaremos deste fruto que é muito nosso. Como introdução ao que aí vem, sugiro a (re)leitura deste texto já antigo:

Do que se fala quando se invoca a nêspera...

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