O Museu Industrial de Guimarães (2)

Anúncio publicado no jornal Ecos de Guimarães de 6 de Janeiro de 1900.
A ideia de criar em Guimarães um Museu Industrial foi retomada pela Sociedade Martins Sarmento em meados de 1899. Em reunião da direcção realizada no dia 5 de Maio, um dos seus directores, Domingos José de Sousa Júnior, apresentou duas propostas: a primeira propunha a criação de um museu industrial, a segunda a organização de um museu colonial. Na primeira proposta, o autor começava por remeter para a ideia original, apresentada em 1884 por Avelino da Silva Guimarães, que lançou as bases para a criação de um embrião de museu das indústrias locais, com a exposição dos objectos que tinham sido oferecidos à Sociedade por industriais vimaranenses, após o encerramento da primeira exposição industrial concelhia. Depois de citar o relatório de actividades da SMS referente ao ano de 1885, que dava conta de que aqueles objectos já estavam expostos e de que se mantinha a aspiração da criação de um museu industrial, perguntava se aquele não seria já o tempo de concretizar aquele projecto:

São decorridos quinze anos desde a apresentação desta proposta e o diminuto pecúlio de produtos industriais do concelho é conservado na casa da Sociedade, sem que se tenha procurado levar por diante a realização de tão benéfica iniciativa.
E, todavia, se a importância da indústria vimaranense em 1884 era tal que permitia levar a efeito a exposição industrial concelhia, um dos maiores títulos de glória desta Sociedade que a promoveu, e fazia pensar na criação dum museu industrial, cuja falta já então era reconhecida, é certo que posteriormente essa falta tem sido notada cada vez mais o representa já hoje uma verdadeira e inadiável necessidade, em razão do desenvolvimento sucessivo dos diversos ramos da indústria local, principalmente nos últimos tempos, em que acompanhando o movimento geral do país procuram passar por uma completa transformação que lhes proporcionará um largo e esperançoso futuro.
Não será, pois, ainda oportuna a ocasião de tentarmos realizar esta antiga aspiração da Sociedade?
Na resposta a esta pergunta não poderá haver hesitação. Por isso proponho que para tratar deste assunto seja nomeada uma comissão de sócios, na qual tenham representação os principais ramos da indústria local.

A proposta de Sousa Júnior seria aprovada em reunião extraordinária da direcção da SMS, realizada no dia 19 de Junho daquele ano. Foi acolhida favoravelmente na cidade, nomeadamente pela Associação Comercial de Guimarães que, em 22 de Julho, enviou um ofício ao presidente da direcção da SMS, em que o felicitava “por tão louvável resolução, que a ser levada a efeito, como é de esperar, muito beneficiará esta terra, principalmente na parte respeitante ao museu industrial, por vir preencher uma importante lacuna, há muito tempo por todos reconhecida, no nosso activo e desenvolvido centro industrial”.
Nos meses que se seguiram, foi-se preparando uma reunião com os possíveis interessados na instalação do museu das indústrias vimaranenses, que seria definitivamente convocada para o dia 7 de Janeiro de 1900, e foi anunciada no jornal Ecos de Guimarães que se publicou na véspera da sua realização:

Reunião de industriais

A digna direcção da benemérita Sociedade Martins Sarmento convida hoje, em anúncio, que inserimos na secção competente, todos os comerciantes e industriais desta cidade a comparecer amanhã, pelas 5 horas da tarde, no edifício da Sociedade, a fim de se tratar da criação dum museu industrial.
Achamos acertadíssima esta resolução dos ilustrados directores.
Guimarães é, incontestavelmente, um dos centros industriais mais importantes do norte do país. E, diga-se, para honra dos seus promotores, é à exposição concelhia de 1884, que se deve em grande parte o assombroso desenvolvimento industrial da nossa terra.
As fábricas de tecidos do Castanheiro e da Avenida, a fábrica de Ilação de Campelos. as fábricas de pentes da Medroa e Caldeiroa, as fábricas de tecidos e de cutelaria, em construção, constituem uma grande riqueza para Guimarães. Mas é preciso que o viajante possa encontrar reunidos numa casa todos os produtos da indústria vimaranense, que tanto honram a iniciativa dos comerciantes e industriais desta cidade.
É, pois, de esperar que seja concorridíssima a reunião, que deve realizar-se amanhã.
Parabéns à direcção da Sociedade Martins Sarmento, a que preside o ilustre clínico vimaranense, snr. dr. Joaquim José de Meira, pela sua iniciativa, que, certamente, será coroada de bom êxito.
Ecos de Guimarães, 6 de Janeiro de 1900

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