Os Guimarães



Num dos textos mais lidos deste blogue, escrito para uma publicação do Cineclube de Guimarães dedicada aos vimaranenses, pode ler-se:
Consta mesmo que no Brasil haverá mais Guimarães do que em Guimarães. Até na política: um notabilíssimo Guimarães, Ulysses, foi presidente, por duas vezes, da Câmara dos Deputados. E ninguém o negará: sem os Guimarães, a literatura brasileira seria bem mais pobre. São Guimarães, por exemplo, o Rosa, que no Brasil renovou o romance, e o Bernardo, que escreveu as aventuras e desventuras da desditosa Escrava Isaura, assim como o poema imoral A Origem do Mênstruo, que basta ser lido para se perceber que só podia ter sido escrito por um dos nossos.
Como bons portugueses, os vimaranenses, além de historiadores, também são poetas. O maior de todos os poetas de Guimarães também era brasileiro e chamava-se Alphonsus Henriques de Guimaraens Filho. Existirá nome mais vimaranense? 


Em meados do século XVIII, o padre João Baptista de Castro, na página 28 do seu Mappa de Portugal, escrevia que, da gente inumerável, que não pode sustentar este País, se tem povoado o Mundo, e com especialidade o Brasil, e as Minas.
A emigração sempre foi uma marca do modelo demográfico do Minho. Ao longo dos séculos, por força da prodigalidade destas terras, uma natalidade que funcionava sem mecanismos de controlo minimamente eficazes, associada a taxas de mortalidade infantil inesperadamente baixas, para o tempo, gerava excedentes populacionais que forçavam milhares de homens à emigração como destino. Foi essa “gente inumerável, que não pode sustentar este País”, que deu corpo, durante largos séculos, ao fluxo migratório que, em levas sucessivas, desde os primórdios da fundação da nacionalidade portuguesa, alimentou o movimento silencioso de povoadores que do Minho partiam para outras terras, cada vez mais longínquas, à medida que Portugal se foi construindo e se foi erguendo o seu império marítimo. Daqui partiam os homens para povoarem o Mundo, “com especialidade o Brasil, e as Minas”, e por lá deixaram os seus genes, as suas obras e o nome da sua terra-mãe, que acrescentaram ao que daqui levaram quando partiram e que, com o transcurso dos séculos, cresceu e se multiplicou. São os Guimarães e estão por todo o lado, em especial no Brasil, com presença na cultura, na literatura e nas outras artes, na vida política, no desporto, etc.
Os Guimarães, descendentes desses povoadores do Novo Mundo originários deste território do velho Minho, são hoje centenas de milhares. Somados aos que vivem em terras que também têm nome de Guimarães, rondam um milhão de almas.
Porque todos os Guimarães são, de algum modo, de Guimarães, há muitos anos que tento chamar a atenção para a relevância histórica, sociológica e económica desta marca Guimarães que tem presença nos quatro cantos do Mundo.
Sem grande sucesso, até hoje.
[O vídeo que aqui partilho foi preparado para as conferências do Pecha Kuxa Night, edição n.º 9, Janeiro de 2016, onde participei a convite da Ana Isabel Bragança e do Cláudio Rodrigues.]

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