Do Toural: 4. Do trânsito

Perpectiva geral da proposta de intervenção no Toural.
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A arquitecta Maria Manuel Oliveira, numa comunicação que, seguramente, será lida com atenção pelos técnicos e decisores políticos que têm entre mãos o projecto de intervenção para o Toural, já notou que, no debate em curso, o que está “em causa não é o projecto em si – aliás elaborado por uma equipa de reconhecida qualidade e com provas dadas nos mais significativos edifícios da cidade – mas o pressuposto de pedonalização absoluta do Toural”.

Subscrevo, em absoluto, o propósito subjacente ao projecto de “aumentar a qualidade ambiental e formal, diminuindo a presença do automóvel e autocarro em favor da circulação pedonal e bicicleta”. Comungo da ideia de que é preciso dar mais espaço aos peões no Toural, trazendo mais vida para o coração da cidade. Só não estou seguro das vantagens de entregar todo o Toural aos peões, eliminando a circulação automóvel. Estou com os que tendem a acreditar que é possível conciliar o trânsito motorizado com mais espaço na praça para os peões.

Não consigo imaginar o que mudará na vivência da cidade, tal como sempre foi, sem circulação automóvel naquele espaço, que sempre esteve aberto à circulação de todo o género de veículos. Também não estou a ver o Toural sem a praça de táxis ou sem lugar para autocarros descarregarem os turistas e os grupos escolares que visitam os museus da zona ou o Centro Histórico. Acredito que será possível conciliar o alargamento do espaço de estar, de passar e de lazer, reservado aos peões, com a circulação viária de automóveis e autocarros. Além do mais, ir ao Toural de carro, para se ver e para se ser visto, é um ritual muito vimaranense.

O atravessamento subterrâneo do Toural, conjugado com a implantação do parque de estacionamento subterrâneo, irá gerar zonas de desconforto para os utentes da praça relacionados com os sistemas de ventilação e de exaustão de fumos a instalar ou com os acessos pedonais ao parque. Ao mesmo tempo, a localização das bocas de entrada e saída do túnel será, como temos visto noutras cidades, potencialmente geradora de zonas de conflituosidade, muitas vezes de difícil resolução. Não tenho dúvidas de que, porventura mais do que as outras, a embocadura de entrada proposta para o Toural se poderá transformar numa dessas zonas de conflito, quer por se afigurar demasiado invasiva em relação ao espaço da praça, quer porque pode contribuir para jugular a rua Paio Galvão, tornando-a desconfortável para os peões e dificultando o seu atravessamento pedonal. Pode ser que esta associação não venha a fazer muito sentido, mas a verdade é que esta possibilidade me traz à lembrança o caso do Soares dos Reis, no Porto. E nem sequer falta o museu…

A apostar-se na solução de enterrar o trânsito no Toural, estou em crer que a boca de entrada do túnel deverá ser colocada bem antes da rua Paio Galvão.

O atravessamento do Toural tem sido um nó difícil de desatar pelos que estudam a circulação viária no interior de Guimarães. O fecho do trânsito na praça gerará uma cascata de problemas cujas soluções, se já estão encontradas, muito ganhariam em ser divulgadas. Falta saber, por exemplo, o que sucederá com a circulação nas ruas de D. João I e de Camões, que já hoje é complicada, e que terá que dar resposta às novas necessidades geradas pela nova implantação da feira semanal, que se irão somar às do mercado recentemente inaugurado, para o qual o Toural deixará de funcionar como via de escoamento. Também não é muito claro o que se propõe para o trânsito na rua da Caldeiroa e na Avenida Afonso Henriques, duas artérias algo problemáticas em termos de trânsito.

Agrada-me, muito particularmente, a solução encontrada pelos autores do projecto para a Alameda, onde é alargado o espaço pedonal, conciliando-o com a circulação automóvel, que fica circunscrita ao lado voltado para Sul (S. Francisco). Estou em crer que se resolveriam muitos dos problemas que têm sido apontados ao projecto em discussão se a solução da Alameda fosse prolongada até ao Toural, entregando a maior parte da praça ao usufruto dos peões, reservando o lado poente para a circulação automóvel à superfície e deixando cair as propostas de desnivelamento da circulação rodoviária e de construção do aparcamento subterrâneo. Além do mais, os custos da intervenção, a todos os níveis, seriam bem menores.

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