A Colecção Albano Belino

Oriundo de Gouveia, onde nasceu no dia 18 de Dezembro de 1863, Albano Ribeiro Belino chegou a Guimarães em Julho de 1876, tornando-se marçano na tabacaria de José Joaquim de Lemos, o Lixa da Porta da Vila.
Desde cedo começou a fazer-se notar pela sua inteligência e espírito de iniciativa. Reconhecendo as qualidades do rapaz, um dos clientes habituais da Tabacaria Lemos, o cónego António Joaquim de Oliveira Cardoso, poeta e dramaturgo, iniciou-o nas artes da escrita. Cedo Belino se fez poeta, colaborando nos jornais de Guimarães (Religião e Pátria, Memória, Comércio de Guimarães) e tornando-se correspondente, por muito tempo, do Jornal da Manhã, do Porto. Em 1886, juntamente com um outro jovem empregado do comércio da Porta da Vila, Albano Pires de Sousa, fundou uma folha literária dedicada às damas vimaranenses, O Bijou.
Em 1885 e 1886, teve participação activa nas movimentações que agitaram a cidade na sequência do apedrejamento, em Braga, dos procuradores de Guimarães à Junta Geral do Distrito (Conde Margaride, Joaquim José de Meira e José Martins de Queirós), que esteve na origem da célebre questão brácaro-vimaranense. Em Dezembro de 1885, promoveu as comemorações do 7.º centenário da morte de D. Afonso Henriques. Integrou o núcleo dos iniciadores da Grande Comissão de Melhoramentos da Penha, de que foi o primeiro presidente.
Em 1891, casou com Delfina Rosa, que já dobrara os 43 anos e era sobrinha do Cónego António de Oliveira Cardoso. O matrimónio trouxe-lhe o desafogo económico e levou-o a instalar-se em Braga. Será aí que, inspirado na obra e no exemplo de Martins Sarmento, dará início às suas prospecções arqueológicas, de que começámos a ter notícias através da correspondência que trocou com Sarmento (a quem se referia como o seu conselheiro e distintíssimo mestre em negócios de arqueologia) entre Agosto de 1894 e as vésperas do falecimento do arqueólogo da Citânia de Briteiros, em 1899.
Esta troca epistolar, de que se conhecem 160 cartas que estão guardadas no Arquivo da Sociedade Martins Sarmento, é uma interessantíssima fonte de informação para o conhecimento do processo de introdução de Albano Belino nas coisas da arqueologia, da história do estudo das ruínas de Bracara Augusta e do seu projecto, eternamente adiado, da criação de um Museu Arqueológico em Braga.
Exercendo a sua actividade de investigação arqueológica naquela que Sarmento designou como a mina braguesa, Belino vai dando conta do entusiasmo com os seus sucessivos achados de monumentos epigráficos. Nas cartas que envia para Guimarães ou para Briteiros, dá conta, por diversas vezes, da sua felicidade epigráfica. Ao mesmo tempo que compila as inscrições que transcreve das pedras que encontra, começa a coleccionar os objectos arqueológicas que irão dar origem a um núcleo museológico, instalado a partir de 1899 num espaço no Paço do Arcebispo, cedido pelo respectivo prelado, que era sensível às coisas da Arqueologia e membro da Associação dos Arquitectos e Arqueólogos Portugueses. O destino deste espólio deveria ser a futura integração no Museu Arqueológico de Braga que, havia mais de uma década, estava prometido.
Progressivamente, Belino alargou a sua área de prospecção para espaços exteriores à velha Bracara Augusta. Em Maio de 1899, anunciou a Sarmento que estava em vésperas de explorar o Monte Redondo e mais dois pequenos castros nas suas proximidades. Pouco depois, dava conta de que o monte de Santa Marta ficaria para mais tarde porque ali o desaterro deve ser muito dispendioso. Em 1902 seria também responsável por trabalhos de escavação na Cidade Velha de Santa Luzia, em Viana do Castelo.
Autodidacta, não possuindo qualquer diploma académico, nem mesmo o de instrução primária, Albano Belino deixou uma obra publicada que abrange estudos sobre epigrafia romana, arqueologia cristã e numismática.
A morte levou-o em 1906, sem que tivesse completado os 43 anos de idade. Partiu sem ver concretizado o sonho que alimentara muitos anos: a abertura de um Museu Arqueológico em Braga, onde projectara depositar os objectos que coleccionou ao longo de mais de uma década. E partiu com uma forte amargura em relação à cidade onde se fez arqueólogo, devido à atitude de desprezo em relação à memória material do passado, então dominante em Braga. Com outros bracarenses ilustres, Albano Belino tinha levantado a voz contra o arrasamento da velha muralha, sem sucesso. José Leite de Vasconcelos testemunharia que este acontecimento determinou nele violenta convulsão moral, na sequência da qual viria a ser acometido pela apoplexia que o levaria à morte.
Após o falecimento de Albano Belino, a viúva fez com que se cumprisse a sua vontade, doando ao Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento a colecção arqueológica que continuava alojada precariamente no Paço Arcebispo de Braga.
Na manhã do dia 6 de Fevereiro, transportada em oito carros de bois, deu entrada no Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, um significativo conjunto de monumentos epigráficos imprescindíveis para a compreensão da história de Braga.

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